No alto da Serra da Mantiqueira, uma fazenda experimental que tem por nome Frutopia se tornou uma das mais inovadoras experiências de produção de alimentos de qualidade do Brasil. Seu idealizador, o agrônomo Rodrigo Veraldi, criou uma espécie de playground agrícola em São Bento do Sapucaí, a poucos quilômetros de Campos do Jordão. Destaque do livro Paisagens Gastronômicas, a propriedade será uma das visitas mais saborosas da Expedição Paisagens Gastronômicas Serra da Mantiqueira.
Rodrigo Veraldi no Viveiro Frutopia
Ali, a 1,6 mil metros de altitude, Rodrigo se dedica a cultivar tudo o que há de mais improvável para os Trópicos – ou seja, com foco em produtos de clima temperado. Começou com framboesas; hoje vende mudas de mais de 50 variedades de frutos vermelhos. Das 3 mil oliveiras que há na propriedade, produz azeite. Das 50 macieiras, sidra. Tem também 200 castanheiras portuguesas. Sua propriedade rural virou o berço da primeira produção brasileira de lúpulo, a planta que garante o amargor da cerveja.


A produção de frutos vermelhos, azeitonas e castanhas portuguesas é abundante
Apreciadores da boa mesa que visitam a região conhecem o local pela alcunha do coração gastronômico da fazenda, o restaurante Entre Vilas. Nos fins de semana Rodrigo oferece um menu sazonal de seis tempos com os produtos da fazenda e de produtores vizinhos. A fantástica vista a partir do deck do restaurante da Frutopia inclui a plantação de lúpulo no pé do morro, cujo gosto pode ser provado ali mesmo, nas cervejas da casa. E muitas videiras.

Criado em 2002, o Viveiro Frutopia tornou-se referência na região
Afinal, vinhos também são uma especialidade da Frutopia: todos naturais, produzidos à moda antiga, sem o acréscimo de aditivos. As uvas fermentam de modo espontâneo, com as leveduras que existem no campo. É uma produção pequena: não mais que 3 mil garrafas por ano, de variedades como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Pinot Noir, que só lá podem ser compradas – no pequeno empório de preciosidades da produção regional de alimentos e bebidas.

A produção vinícola é outra especialidade da Frutopia
Enquanto aguarda a primeira safra de avelãs e, na raiz dos carvalhos, a primeira trufa negra nacional, Rodrigo segue surpreendendo os apreciadores de cerveja artesanal. Antes dele, existiam pouquíssimas experiências – mal-sucedidas – de produção de lúpulo no país. As primeiras mudas surgiram quando menos esperava, em 2011, depois de seis anos tentando em vão fazer vingar na Mantiqueira as 30 sementes que um amigo lhe trouxera do Canadá.
Rodrigo também é um grande apreciador de cerveja
Parecia uma ideia promissora no início: dessas sementes originais, oito variedades de lúpulo prosperaram dentro da estufa. Como uma delas se tinha se revelado excepcionalmente produtiva, Rodrigo descartou as outras sete e plantou essa a céu aberto, num fundo de vale. Foi um fiasco: açoitada pelas chuvas, consumida pelas doenças, não chegou nem a florescer.
Dois anos depois, quando a ideia de produzir um lúpulo brasileiro já havia sido definitivamente engavetada, eis que aparece, debaixo de um pé d’água, uma frondosa moita na área que funcionava como o lixão da fazenda – um lugar onde eram lançados os resíduos orgânicos, justamente aquilo que não prestava mais.
Pois aquela variedade supostamente pouco produtiva, desprezada anos antes, havia germinado com galhardia sob as chuvas da Mantiqueira, e ainda gerando flores ricas em lupulina – o pó amarelo cujas resinas e óleos conferem aroma e sabor à cerveja. A natureza havia se encarregado de fazer a seleção natural, desenvolvendo por conta própria a matriz do que viria a ser denominado “lúpulo da Mantiqueira” – e mais uma das supostas utopias que Rodrigo Veraldi transformou em realidade.
Nesse vídeo, Rodrigo Veraldi conta mais sobre sua história como produtor
Para degustar essas delícias direto da fonte:
Conheça nossa Expedição Paisagens Gastronômicas Serra da Mantiqueira