O QUE ENSINAR AOS MAIS NOVOS?

05.02.2018 em Cultura.
Autor do post: Lila Guimarães, jornalista e colaboradora da Donato.

O que ensinar aos mais novos enquanto aprendemos juntos uma outra consciência sobre envelhecer? A proposta é: vamos nos olhar frente a frente e imaginar entre nós um espelho que mostra uma das poucas verdades da vida. Crianças ou adultos, todos estamos no mesmo processo!

Dizer aos jovens que a vida é uma escola e que, por isso, devem respeitar os mais vividos – afinal eles já cumpriram muitos estágios desse aprendizado – é o básico da educação civil e familiar. Precisamos, no entando, nos aprofundar na questão, estreitar a relação indissolúvel entre jovens e mais velhos para criar enfim uma empatia mais contundente entre as gerações. Isso facilita a vida de todos, alivia medos e evita preconceitos.

Além do respeito pela trajetória de uma pessoa mais experiente, existe um outro viés de identificação ainda não muito em voga e que é um dos pontos de partida do livro Como Envelhecer, nossa maior inspiração para este artigo. A socióloga e escritora inglesa Anne Karpf desenvolveu em 192 páginas suas teses sobre o passar do tempo, e as consequências sociais e emocionais desse processo mais do que natural. Ela então nos lembra de algo essencial: envelhecer não acontece apenas quando completamos 65 anos, mas durante todas as fases da vida.

Não há, portanto, na fase da maturidade, uma estagnação. Continuamos nos consolidando como seres humanos, aprimorando nossos melhores talentos e características. Podemos, inclusive, nos dedicar mais a atividades criativas e intelectuais. Segundo a autora, “Envelhecer pode ser altamente enriquecedor, uma época de enorme crescimento. Além disso, em uma coisa todos os mais importantes pesquisadores concordam: que nos tornamos mais, e não menos, distintos conforme envelhecemos… Continuamos sendo nós mesmos por toda vida, apenas mais velhos. Ainda mais importante, o envelhecimento nos dá a oportunidade de sermos totalmente nós mesmos: mais, e não menos, indivíduos.”

Como Envelhecer é uma bússola que nos atualiza o pensamento e nos guia por um momento de entendimento muito mais generoso e otimista sobre a vida na maturidade. O assunto anda nas revistas e jornais como estamos noticiando aqui no blog (leiam também 50 tons de vitalidade e De repente 60).

Há cerca de um ano e meio foram publicados na revista Journal of Clinical Psychiatry os resultados de um trabalho da Universidade da Califórnia sobre idade e bem-estar, baseado numa pesquisa com 1.546 pessoas. Eles revelam a tendência predominante por mais sensações de conforto e bem-estar a cada ano que passa.

A leitura do estudo considera que a experiência de vida traz uma maior habilidade na gestão das emoções, mas mudanças físicas decorrentes do tempo, como explica o pesquisador Dilip Jeste, também são responsáveis por uma percepção mais moderada das situações difíceis e estressantes. Como exemplo, ele cita a diminuição dos níveis de dopamina no circuito de recompensa do cérebro, o que ajuda no controle das emoções.

Todas essas informações devem ser compartilhadas, ensinadas e faladas. Existe ainda uma lacuna na educação a respeito da idade. Vemos isso claramente quando os mais jovens entram em crise aos 30, 40, ou nos primeiros anos da fase “enta”. Ou quando alguém maduro (cheio de histórias e de conhecimento) tem vergonha de dizer quantos anos tem.

Até os ídolos pop sofrem com críticas pelo comportamento aparentemente desajustado com a “fase de maturidade”, como aconteceu recentemente com a cantora Madonna, de 59 anos, ao publicar uma selfie com parte do seio à mostra, sem Photoshop, agarrada a uma bolsa Louis Vuitton. Ela recebeu uma série de comentários agressivos e cobranças de compostura por ser uma senhora. O jornalista do El País, Guillermo Alonso, matou a charada: “Esta mulher de 60 anos da foto que o mundo percebe como uma excêntrica é, possivelmente, Madonna sendo ela mesma. Provavelmente ela sempre foi assim, mas não soubemos ver isso, porque antes ela era jovem.”

O episódio com Madonna é mais um reflexo da falta de conhecimento, de um despreparo que pode ser reparado. Envelhecer é um privilégio de todos, mas ficar “velho” não é para qualquer um… tem que ter sorte, porque a vida também pode ser muito curta. O momento é de expandir as noções que temos sobre viver bem, independente da idade, ensinando e aprendendo respeito e admiração!

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