Bauhaus, a escola de design, arte e arquitetura mais revolucionária e icônica da história, é o nosso grande tema em uma série de matérias que celebram o seu centenário. Adoramos sua filosofia, o que ela representa e, sobretudo, adoramos o berço desse movimento modernista, a Alemanha. Durante esse ano de comemorações, mergulhamos no assunto nos seguintes textos: É tempo de comemorar o centenário Bauhaus; Bauhaus: da Alemanha para o mundo; Influências da arquitetura Bauhaus no Brasil; Os grandes nomes da escola Bauhaus; e 4 Dicas para conhecer mais sobre a Bauhaus.
Agora, conversamos sobre a Bauhaus com a professora de História da Arte Anamelia Bueno Buoro, figura assídua, querida e essencial nas viagens da Donato que contemplam roteiros de arte e cultura pelo mundo. Anamelia esteve guiando visitas por duas mostras comemorativas que aconteceram em São Paulo: Paul Klee – Equilíbrio Instável, no CCBB, e bauhaus imaginista: Aprendizados Recíprocos, no Sesc Pompeia. As exposições já saíram de cartaz, mas o que fica dessas experiências, e ainda outros pontos de vista sobre a escola, é o que ela nos conta logo a seguir:
BLOG Donato: Nas visitas guiadas às exposições do SESC e do CCBB, o que percebeu que foi de maior interesse dos visitantes?
Anamelia: As exposições do Sesc Pompeia foram uma introdução sobre o assunto 100 anos da Bauhaus. Quem lá esteve percebeu de onde vieram as raízes dessa escola e as marcas das influências que ela deixou em alguns países do mundo, incluindo o Brasil. Penso que o nosso grupo conseguiu perceber a importância da Bauhaus. Já na visita ao CCBB, puderam acompanhar o pensamento de Paul Klee, que disse, enquanto professor da Bauhaus, que “A arte não representa o visível, mas sim torna visível.” Visitando a exposição de Paul Klee nosso grupo deve ter percebido a importância dos projetos pessoais dos professores da escola.
BLOG Donato: Por que a Bauhaus causa ainda tanta admiração e curiosidade até mesmo de quem não é da área das artes ou do design e arquitetura?
Anamelia: A Bauhaus ainda causa admiração e curiosidade nas pessoas até hoje porque soube inovar muito no período entreguerras. Colocou na prática dos seus alunos toda a modernidade estética que nasceu nos primeiros anos do século XX. Montou uma escola que questionou os paradigmas de uma escola de arte mais clássica. Abriu novas portas para se pensar as estruturas de ensino de arte no mundo.
BLOG Donato: A Bauhaus pode ser considerada um movimento revolucionário? Existe o mundo das artes e do design antes e depois da Bauhaus?
Anamelia: Posso dizer que a Bauhaus revoluciona sim as estruturas metodológicas das escolas de arte desde a época em que ela existiu. Mas também precisamos considerar que essa escola acontece no período da República de Weimer, época do pós-Primeira Guerra, na qual a Alemanha tentava renascer das cinzas. Outro foco que não podemos perder de vista é a força da direção de Walter Gropius, somadas aos objetivos de produção de objetos nos quais se tentou unir os trabalhos do artesão com do artista, assim como com a produção industrial. Essa escola foi, e ainda é, um marco importante do século XX.
BLOG Donato: Quais as obras que mais chamaram a atenção dos visitantes?
Anamelia: Todos os olhares numa exposição são singulares. Quando visitamos um espaço expositivo, os contatos visuais que lá acontecem estabelecem relações com o repertório de cada visitante. É por isso que a grande maioria dos professores ampliam os olhares dos visitantes compartilhando as percepções singulares que vão acontecendo no tempo da visita. Descobrir o que chamou a atenção de um amigo me faz ver mais. Nesse sentido, fica difícil dizer quais obras atraíram de maneira mais forte os nossos visitantes, mas descobrir que no Brasil o trabalho de Niemayer e de Lina Bo Bardi se alimentaram dos pensamentos dessa escola com certeza não passou despercebido.
BLOG Donato: Quais chamaram a sua atenção e por quê?
Anamelia: Eu sou fascinada pela estrutura metodológica da escola. Me lembro sempre que meus alunos de graduação, quando tinham aula sobre a Bauhaus, perguntavam: “Ana, por que a escola da gente não é desse jeito hoje?” Ou, “Ana, quem não vai gostar de uma escola assim?”. Por outro lado, fico fascinada com os design dos objetos por ela produzidos, ou mesmo com a busca de soluções que facilitam a nossa vida e que foram descobertos pela escola. Hoje, a maior parte das pessoas nem sabe que as pesquisas sobre toda essa funcionalidade foram inicialmente produzidas lá.
BLOG Donato: Existem mil outras referências da Bauhaus fora dos museus, as cidades no mundo todo receberam suas influências e segmentos variados da cultura também foram inspirados pelas resoluções estéticas bauhausianas. Fale um pouco mais sobre isso?
Anamelia: Depois de fechada a escola Bauhaus, os professores que fizeram parte dela migraram para diferentes países e cada qual deixou sua marca nos novos lugares que habitaram. Muitos migraram para os EUA, outros para a América do Sul, outros para países da Europa e do Oriente. Enfim, podemos dizer que eles se espalharam por diversos lugares do mundo levando suas propostas de trabalho. A exposição que iremos visitar em Berlim irá mostrar as marcas significativas que a Bauhaus deixou nos diferentes lugares, onde vários de seus professores foram morar.
BLOG Donato: O que considera mais interessante na filosofia da escola?
Anamelia: Na época em que a escola aconteceu, a Europa estava vivendo um período difícil para se adaptar aos novos modelos industriais. Estava experimentando novas formas de regimes políticos, e tinha acabado de sobreviver à destruição devastadora provocada pela Primeira Guerra Mundial, assim como pela Revolução Russa. Diante desse cenário onde a sobrevivência dos modelos políticos antigos estavam tentando se reorganizar, surge entre os artistas o movimento Dadaísta. Na Alemanha derrotada na Primeira Guerra surge a República de Weimar e um novo modelo de Escola de Arte, Design e Arquitetura aparece na Escola Bauhaus. O esforço para encontrar saídas para uma nova organização mundial era a tônica daquele momento em todas essas iniciativas e as novas ideias proliferaram com muito espaço tentando se fortalecer. Acho bastante interessante descobrir todo o contexto dos acontecimentos assim como perceber que uma escola de ensino de arte floresceu com tanta força, deixando suas marcas até hoje no terceiro milênio.
BLOG Donato: Quais ensinamentos ficam para sempre e para todos? Ensinamentos para a vida? Ou seja, como a Bauhaus pode influenciar os modos de vida contemporâneos?
Anamelia: A Bauhaus foi um acontecimento pontual, assim como muitos outros na Europa daquele momento. O que percebemos desses acontecimentos é que o homem arruma saídas para os problemas da vida e assim vai construindo sua história nos diferentes espaços onde vive, abrindo e fechando portas que poderão ser retomadas nos diferentes futuros do ser humano.
BLOG Donato: O que pode destacar da viagem que a Donato está planejando para Alemanha durante as comemorações do centenário da Bauhaus?
Anamelia: Um roteiro de viagem durante essa comemoração dos 100 anos da Bauhaus tem a ver com a ideia de abrir portas significativas aos viajantes, no sentido de perceberem acontecimentos importantes do mundo, na dimensão da cultura. Visitar os lugares por onde a escola passou ficará na memória de cada um, sem que precisem fazer esforço para reterem esses saberes em seu repertório. O corpo do viajante, no espaço físico dos acontecimentos dessa escola, guardará nas memórias daqueles que tiverem oportunidade de ir conosco, todo um conjunto de fatos culturais de maneira natural e muito diferente dos que se absorvem numa leitura ou mesmo em uma palestra. A memória do viajante que descobre, fotografa, pensa, se organiza quase de maneira natural, numa série de informações sensíveis e muito fortes. Isso pode advir desse estado de espírito que a viagem promove.
BLOG Donato: De que forma as pessoas podem se aproximar mais do assunto antes de embarcar numa viagem até o berço desse movimento?
Anamelia: Com a Internet à disposição de todos, cada pessoa pode se aproximar de qualquer assunto, mas é necessário sempre saber pesquisar. Usando fontes confiáveis, todo viajante tem possibilidade de estar informado, mas é importante também que essas fontes abarquem diferentes linguagens como a música de época, os diferentes filmes dirigidos por diferentes diretores das mais variadas culturas, os livros, enfim, tudo é fonte de informação hoje em dia. O importante é que todas essas informações possam nos ajudar a construir um conjunto de saberes que serão resultado do caminho percorrido pelo pesquisador. Não existe verdade absoluta, mas sim possíveis pontos de vista construídos com argumentação consistente. É por isso que sempre digo aos meus alunos: “Vocês deverão entrar em contato com muitos pontos de vista para construírem o ponto de vista de vocês, pois existem tantas histórias quanto historiadores escreverem. Cada qual tenta nos convencer da sua verdade que sempre está posta no seu ponto de vista argumentado“.
BLOG Donato: Que clima esperar nas ruas da Alemanha, durante esse roteiro que celebra os 100 anos da Bauhaus e quais são as cidades mais interessantes nesse momento?
Anamelia: As cidades mais importantes desse roteiro de comemorações, nós iremos visitar. Weimar e Dessau, por exemplo. E acredito que estaremos sim encontrando uma Alemanha em festa pois muita coisa está sendo programada para essa comemoração de 100 anos da Bauhaus.
Leia sobre a nossa viagem pela Alemanha nos 100 anos de Bauhaus, em setembro de 2019
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