Pensando em como trilhar um ano novo de realizações, com desafios instigantes e saúde emocional para lidar com tudo o que está por vir, fomos atrás de conhecimento de causa com uma das coachs mais experientes do país. Rosa Bernhoeft é sócia-fundadora da Alba Consultoria há mais de 40 anos, pioneira em Mentoring no Brasil, atendendo líderes e executivos daqui e em outros territórios da América Latina, Estados Unidos e Europa. Autora dos livros Mentoring: Abrindo Horizontes, Superando Limites, Construindo Caminhos; Mentoring: Práticas e Casos; e A Sucessão Estratégica dos Negócios, Rosa também é conhecida pelo talento em conciliar vida familiar (ela tem cinco filhos!) com uma intensa carreira profissional. Numa entrevista, abrimos toda esta bagagem para surtir os melhores e mais bem-vindos efeitos em nossos leitores. Assim esperamos!
BLOG DONATO: Para o começo de ano, depois de avaliações e resoluções, como podemos colocar em ordem todos esses pensamentos e organizá-los melhor?
ROSA: Ao iniciar o ano, sempre há um estado emocional especial que convida para reiniciar, recomeçar, querer fazer melhor, ou diferente, pôr em prática algo novo, que seja um comportamento, uma atividade, um projeto. Queremos que seja realidade algo com o qual sonhamos e desejamos ao longo do tempo. Queremos também que ideias que usamos como clichês, como amor, alegria, prosperidade, luz, paz, sejam tangíveis, sejam objetivos reais. E como isto pode acontecer? Para fazer acontecer, na prática, precisamos incorporar à nossa vida no mínimo três verbos: planejar, executar e persistir. Três ações fundamentais.
BLOG DONATO: Existe alguma estratégia de organização usada nos negócios que também pode ser aplicada na vida pessoal?
ROSA: A prática do planejamento estratégico que o mundo todo valoriza dentro das empresas pode ser um modelo para aplicar na organização da vida pessoal, mas de uma forma mais simplificada. Por exemplo, para começar, crie uma lista de oportunidades do que pode e quer fazer e experimentar. Coisas que sempre desejou e não teve tempo até hoje de realizar. Não censure a sua lista, depois faça uma análise dela e verifique se está fazendo escolhas pela facilidade ou porque se sente mais apto para realizar algo interessante. O mais importante, avalie cada item da lista com perguntas como: Isso faz sentido? Isso me motiva? Me entusiasma? Este primeiro movimento de planejamento é fundamental, porque ele é capaz de te guiar e direcionar uma ação mais consciente. Por quase cinquenta anos, convivi com uma senhora que viveu até os 96. Ela era uma espécie de governanta da casa e tia de toda minha família, especialmente, dos meus filhos. Ela tinha uma virtude excepcional que passou para todos nós. Viveu seus 96 anos com muita alegria e muita vitalidade porque tinha planos. Ela montava planos de estudo, de viagens, planos de toda natureza para serem realizados em uma semana ou um ano. Ela estimulava a nossa mente a conseguir atingir qualquer meta.
BLOG DONATO: Sobre os outros verbos executar e persistir. Como podemos aplicá-los no dia a dia a favor dos nosso planos?
ROSA: Claro, não podemos somente planejar. Temos que passar para um segundo momento: executar. Executar exige disciplina, perseverança, estrutura. Para executar um projeto, crie a meta! A pergunta principal é: O que quero conquistar? Dê preferência para realizar algo em curto espaço de tempo, mais ou menos seis meses, depois descreva os recursos que você vai precisar. Elabore um cronograma com as horas da semana que vai se dedicar ao projeto, um lugar para trabalhar e contatos de colaboradores possíveis. Agora, para persistir, precisamos encontrar algo que faça sentido. Buscamos e somos perseverantes na medida em que temos um interesse muito além do físico e do material. Esse objetivo tem que ter significado para nós, trazer algo essencial de nós mesmos, que seja algo em que acreditemos e que nos faça enxergar nossos potenciais e que reforce a nossa autoestima. É fundamental se sentir valioso, é um estado muito importante que faz a gente realizar coisas relevantes também para os outros. Um primeiro passo para isso é reconhecer o valor que carregamos na nossa “mochila”. Essa “mochila” que fomos enchendo ao longo da nossa trajetória, fruto de experiência e do aprendizado de vida. É aquilo que no final das contas nos dá uma autoridade para podermos atuar, para decidir, propor e fazer o que quisermos dentro da família, do trabalho, com as novas gerações e nos contextos onde transitamos.
BLOG DONATO: Nos seus trabalhos, principalmente no livro A Sucessão Estratégica dos Negócios, você fala sobre continuidade e legado, o que tem a ver com cuidar do futuro. Como podemos olhar para frente na vida pessoal, para que ela tenha boas chances de ser alegre e plena?
ROSA: A maturidade nos serve para sustentar a nós mesmos e aqueles que convivem com a gente. Isso nos permite educar e oportunizar a expressão dos talentos dos outros. Usando aquilo que carregamos na “mochila”, que é o passado, conseguimos entender nosso valor e agregar tudo isso a esse conjunto de ações (planejar, executar e persistir). Assim, assumimos um comprimisso com o futuro e vai avançando nele. O movimento de integrar o passado, o presente e o futuro traz alegria e o encontro com os nossos propósitos e tudo se apoia num elemento-chave para termos uma vida plena. Nos permite exercitar o inconformismo criativo. Isto quer dizer desfrutar o máximo do que temos hoje sem perder o desafio do que pode ser melhor amanhã.
BLOG DONATO: Um direcionamento na vida pessoal é necessário a qualquer momento. Na fase da maturidade, o que considera mais importante no geral?
ROSA: A curiosidade era o maior atributo de quando éramos crianças. Queríamos saber o porquê das coisas. Agora, na maturidade, temos que nos perguntar onde está esta curiosidade. Quanto mais dela estamos usando para nos atualizar, aprender e nos desafiar. Pense como as novas gerações inventam receitas, vão a lugares desconhecidos, compram roupas diferentes, quebram hábitos, rotinas e horários, cantam, escutam músicas e dançam ritmos que os fazem descobrir novos movimentos e expressões do corpo. Temos o direito de duvidar das nossas crenças e certezas. A cusiosidade como fenômeno, leva a descobertas, segue na trilha da criação de novas respostas, chega na instalação de novas capacidades, talentos, e conclui na transformação da realidade. Por isso, a sua importância para uma vida saudável, longeva e feliz. Seja curioso para este novo momento!
Foto: Simon Matzinger, no Unsplash
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